Inacreditavelmente, e apesar de a escola do Alto da Fontinha ter ficado escancarada nas noites que se seguiram aos trabalhos de desemparedamento do edifício, a câmara do Porto preparava-se para não cumprir o compromisso assinado e só entregar as chaves do equipamento depois do fim-de-semana. E, pela primeira vez desde que começaram as obras, o portão ficou fechado.
Os funcionários da Domus Social terminaram os trabalhos pelas 16h30 de sexta-feira, bateram o portão e foram embora. Como, aparentemente, teriam que fazer. O que faltou foi alguém telefonar a combinar a prometida entrega da chave. Que acabou por aparecer, mas não por iniciativa da Câmara que, por iniciativa própria, ou falta dela, se preparava para entrar em incumprimento de contrato.
Ainda antes dessa chave chegar já o pátio estava em festa, que esta não precisa de salvamentos miraculosos nem de burocracias estéreis. Festa meio estragada ao vermos que a porta que foi destruída pela polícia, na altura do despejo, deixou de existir e foi substituída por um painel que de madeira tem apenas o nome. Por outro lado, nem sequer desemparedaram tudo o que emparedaram em Maio. O que era o local de recolha de ferramentas e materiais é agora uma sala inacessível (ou apenas acessível depois de se derrubar a parede de blocos de cimento que está no lugar da porta). E o que fora emparedado anteriormente, assim continua, como a porta de acesso à cozinha. As telhas partidas na operação de despejo não foram repostas.
Não apareceu muita gente, que isto é altura de férias, mas, ainda assim, soube especialmente bem a visita dos moradores que mais nos apoiaram na luta pela recuperação da escola. Assim como a de toda a gente que se tem mostrado solidária e participativa no processo. Depois da merenda, a noite terminou com um documentário sobre a revolução silenciada na Islândia.
No sábado, já havia outra dinâmica. A Rádio CasaViva dava o tom para uma cavalgada de limpezas, arrumações e acrescentos, o mais impressionante dos quais terá sido uma parede de escalada que, de repente, aparecia numa das laterais do edifício. Putos em jogos variados e adultos em amenas cavaqueiras eram a primeira imagem para quem chegava. O vizinho que mais força tinha dado no dia da ocupação inicial foi, novamente, o responsável por que tudo corresse bem, atendendo à falta de frigorífico e, em particular, de água, que cedeu através de uma enorme mangueira já que nem gota jorrava das poucas torneiras que escaparam ao abandono. As opiniões sobre a sua falta variavam, mas certo é que a câmara cedeu o edifício sem garantir o abastecimento de água.
Limpas as casas-de-banho e quatro das seis salas, limpos os corredores, o refeitório e os móveis, arrumada a biblioteca e parede de escalada meio feita, começava a escurecer e a escola ia ficando cada vez mais vazia.
Já sem música, o terceiro dia de reocupação acabou com comida e bebida, ao som das conversas dos que ficaram para o fim. Já depois do teatro de marionetas, que subiu à cena um pouco mais tarde do que a hora marcada e divertiu, durante cerca de 50 minutos, uma sala cheia de gente de variadas idades: Era uma vez dois homens, pelo Trapalhada Teatro.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
outra vez do bairro para o bairro
...e não da câmara para o abandono
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