quinta-feira, 28 de abril de 2011

terceira assembleia


A ES.COL.A vai mesmo ter uma biblioteca, que será dinamizada por uma vizinha a partir da próxima segunda-feira, e no recreio, às quintas, haverá oficinas de materiais reciclados para crianças e jovens. Estas foram duas propostas com efeitos a curto prazo da meia dúzia apresentadas na terceira assembleia da ES.COL.A, no dia 25 de Abril, na qual foi decidido, com a anuência dos vizinhos presentes, resistir pela via pacífica perante o cenário de uma ordem de despejo pela via da força. Para reforçar a legitimidade da ocupação da antiga escola primária foi lançado um abaixo-assinado.

A questão do eventual despejo surgiu no seguimento da visita, na semana passada, de dois elementos da câmara municipal do Porto ao Alto da Fontinha, com passagem pela ES.COL.A, tendo abordado um dos ocupantes que se encontrava à porta sem se identificarem, vindo a fazê-lo junto de um vizinho, com quem travaram diálogo e o qual lhes transmitiu o apoio da população ao projecto de ocupação daquele espaço há demasiado tempo abandonado e agora a ser reabilitado para usufruto comunitário. A história foi relatada na assembleia pelo referido vizinho. Até à data não houve qualquer contacto oficial por parte da autarquia. Sobre o assunto, foi recordado o diploma legal (DL n.º 280/2007, de 7 de Agosto, art.76º) que prevê um prazo de 90 dias para executar ordem de despejo após a notificação da mesma a quem ocupar sem título imóvel do Estado ou de instituto.

A abordagem autárquica acabou por concretizar a ideia de pôr a circular um abaixo-assinado a favor da ES.COL.A, sugerida na primeira hora por um vizinho. A versão em papel encontra-se na ES.COL.A e é particularmente direccionada a pessoas da comunidade ou redondezas, com cópia disponível para download na coluna da direita do blog. Na assembleia foi decido colocar o documento para subscrição online, para quem, seja lá de onde for e quem for, manifestar o seu apoio se assim entender, o que já está acessível em www.petitiononline.com/escolafo/petition.html. A propósito, debateu-se o convite à assinatura de pessoas "ilustres/socialmente conhecidas", proposto por uma das participantes, o que veio a ser admitido pelos presentes, tendo em vista que essas assinaturas (nomeadamente a do escultor José Rodrigues, vizinho) podem reforçar o apoio à ocupação, após ressalvas a que isso não sirva de aproveitamento político (especialmente agora em época eleitoral), nem de promoção de ninguém, nem para vermos que há uma meia dúzia de gente mais conhecida a encabeçar a lista das assinaturas.

Em matéria da dinâmica do projecto, realça-se a proposta de dinamização da biblioteca por parte de uma senhora vizinha, que não pôde comparecer mas fez transmitir o seu plano para as tardes de segunda-feira: das 14h30-16h, espaço para convidar os mais velhos a contarem e partilharem histórias e tradições da Fontinha; 16h-17h30, contação de histórias a crianças pequeninas, até aos cinco anos; 18h-19:30, altura para ler/contar histórias e interpretá-las depois através de desenho, pintura, fotografia, etc.. Começa a 2 de Maio. Proporcionar animação no pátio a crianças e jovens, ensinando-as a reciclar materiais, foi também uma proposta feminina. Semanalmente, às quintas-feiras, das 18h30 às 20h.

Estas actividades foram tacitamente aprovadas sem necessidade de reunir consenso. Surgiram também ideias para realizar um workshop de cinema e de criar um coro. E foi partilhada a vontade de uma das pessoas envolvidas localmente de criar na ES.COL.A um espaço para tomar café, deixando explícito o pedido de oferta de uma máquina de café, fundamental para a criação desse ponto de encontro, eventualmente de leitura de jornais.

Por concretizar fica a sessão de esclarecimento de pais sobre questões relacionadas com crianças, disponibilizada por uma socióloga americana especialista em matéria de desenvolvimento infantil, que se encontra de passagem no Porto, em casa de um amigo que levou a proposta à assembleia. Uma vez que a sessão teria de se realizar até esta sexta-feira, acabou por ser adiada para um futuro eventual regresso da socióloga, dada a escassez de tempo para divulgar a iniciativa e conseguir reunir um número mínimo de interessados.

No que respeita a propostas e no sentido de agilizar a autogestão da ES.COL.A e esvaziar a assembleia de assuntos correntes, dando mais autonomia aos grupos de trabalho, considerou-se que, apesar de se querer incentivar a apresentação de propostas presencialmente, o email poderá servir como meio para tal, sob gestão da equipa de comunicação.

Comunicação é um dos cinco grupos formados na segunda assembleia da ES.COL.A, cujos porta-vozes resumiram os avanços das suas primeiras reuniões, à excepção do grupo que vai trabalhar o Jardim, que ainda não reuniu. O da Logística já tem espaço para arrumar o material, que tem vindo a aumentar. O das Infraestruturas já afixou, no corredor do primeiro andar, uma lista dos trabalhos a realizar e de materiais necessários, precisa de mais mão-de-obra, nomeadamente gente para pintar no próximo sábado. O da Comunicação chegou à conclusão que é o mais transversal de todos, tendo por objectivos transmitir e disponibilizar informação a nível interno (grupos de trabalho) e externo (possíveis participantes), receber a informação das actividades de quem as propõe para fazer a divulgação, promover e facilitar a tomada de decisões em consenso e a inclusão de ideias e sugestões, resolução de conflitos, internos e externos, e divulgação de informação na Fontinha e para o exterior do bairro, através do blog e mailinglist. O dos Princípios concentrou-se no reafirmar da tomada de decisões por consenso (já prática da ES.COL.A) e na afirmação de que a ES.COL.A não promove o consumo de carne. Neste ponto relacionado com os grupos de trabalho, foi pedido para que haja informação sobre os mesmos em local visível do edifício, para quem ali chegar saber como as coisas se organizam, o que se anda a fazer e, se quiser, no que pode colaborar.

Do grupo dos Princípios saiu a proposta para a cozinha da Es.Col.A ser vegetariana, fazendo circular informação sobre o porquê da opção, apenas aceitando o consumo de carne e peixe, e respectiva confecção, no pátio exterior, em dias de festa. Ouviram-se reacções favoráveis, uma voz absolutamente contra o consumo de carne em qualquer momento e em qualquer espaço da ES.COLA e outras a alertar que isso pode ser um factor de exclusão dos vizinhos, quando o projecto se quer do bairro e para o bairro. Porque entretanto a noite sucedia ao dia e estávamos prestes a deixar de nos ver uns aos outros, a discussão continua na próxima assembleia, ficando, para já, aprovado que no interior do edifício só se cozinha vegetariano, sendo vegan o jantar popular semanal, às sextas. A propósito, alguém sugeriu que seria então melhor mudar o nome do jantar para comunitário.

A terceira assembleia alongou-se mais de duas horas e meia. Desta vez, houve tradução simultânea para inglês, sussurrada a alguns dos presentes que não entendiam português. Estiveram mais de 50 pessoas, incluindo cravos curiosos de regresso da baixa, pois era dia de comemorar a liberdade. A próxima assembleia ficou marcada para 9 de Maio, segunda-feira, às 18h30. Sugerido e aprovado, as assembleias passam a quinzenais.

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