Eram já 9 horas da noite quando o frio, o cansaço, a fome e o S. João venceram a discussão sobre o futuro da Es.Col.A, quarta-feira, 22 de Junho, O assunto ficou adiado para 4 de Julho, data da próxima assembleia. Implicitamente, foi aprovada a mais moderada das duas hipóteses equacionadas durante duas horas: reocupar as instalações da ex-escola primária do Alto da Fontinha ou continuar a aguardar resposta da câmara municipal ao pedido formalizado nesse sentido. Assinalados os factores positivos e negativos de uma e outra opção, cada um levou a reflexão para trabalho de casa, tendo como prerrogativa de que uma alternativa não invalidará a outra e que haverá também outras formas de reivindicar o espaço imprescindível ao desenvolvimento das actividades da Es.Col.A, que se mantém inexplicavelmente selado e emparedado.
Os pormenores da festa da noite seguinte ocuparam a última meia hora da 11ª assembleia da Es.Col.A, 7ª no Largo da Fontinha. Estávamos já menos de um terço da meia centena que participou na discussão que dominou um encontro iniciado com uma espécie de jogo, baseado num espectrograma, pensado e preparado com o objectivo de ajudar a convergir ideias divergentes, alcançar o consenso e restituir à comunidade a ex-escola primária do Alto da Fontinha, cumprindo-se assim a meta definida na assembleia pós-despejo. Essa meta, que se mantém prioritária, voltou a ser o tema principal em discussão, informados os presentes sobre a ausência de resposta da câmara municipal ao pedido de licença de utilização do equipamento.
Ora, como a discussão tem divergido quanto ao caminho a seguir, manter o diálogo com a câmara ou reocupar a escola, nesta assembleia foi utilizada uma metodologia orientada para identificar e definir a controvérsia que existe no grupo, através da distribuição de posições, com base nos motivos que a suportam, e utilizar essa controvérsia para identificar a melhor estratégia para a Es.Col.A. A explicação foi dada pelo facilitador de serviço, que, com mais quatro pessoas, orientou uma metodologia delineada no pressuposto de que “é natural e saudável que um grupo tenha conflitos”, o que é preciso é “conseguir geri-los”.
Partindo do aparente antagonismo reocupar & manter diálogo com a câmara, o espectrograma fora criado na parte mais a norte do largo. Como na análise da luz, feita através da decomposição da luz das suas várias cores, assim funcionou o espectrograma acerca das posições dos participantes quanto ao rumo a dar ao projecto, convidando-os a escolher espacialmente um local entre os quatro pontos cardeais que demarcavam um quadrado: Eficaz–Não eficaz, Participo–Não participo. O centro simbolizava a neutralidade. A partir daí até aos extremos, o posicionamento de cada um representaria o seu próprio posicionamento quanto à pergunta formulada.
Primeira pergunta: reocupação? Independemente das razões, a maioria posicionou-se entre o Eficaz e o Participo. “Temos de fazer alguma coisa, se não a câmara vai chegar à conclusão de que vale a pena adiar” e “a falta de eficácia não pode impedir a desobediência civil, a ocupação será sempre ilegal, temos de ver a ocupação como reflexo de uma forma de ver o mundo” são exemplos dos argumentos a favor. Em contrapartida, defendeu-se que “agora que iniciamos as negociações temos de prosseguir” e que “a reocupação será ilegal e fechará os canais de diálogo”.
Segunda pergunta: manter o diálogo com a câmara? Aqui, as posições foram mais extremadas do que na questão anterior, divididas ente o Participo e o Não participo. Muitos foram os que partilharam o desgaste que sentem pelo ponto em que o projecto estacionou. Foi reforçada a ideia de que “as pessoas sentem que a legitimidade das suas acções não vem de um polícia ou de um político, mas sim da sua forma de viver o bairro, a cidade e o mundo”. Por outro lado, alguns intervenientes defenderam que estas duas estratégias podem ser conciliadas.
Findo o “jogo”, a assembleia voltou ao local onde tinha começado, no outro lado do largo, para poder continuar a funcionar em círculo. Depois da consciência “visual” do posicionamento dos participantes face a possíveis vias de acção, trabalhou-se em conjunto para encontrar os pontos fortes e fracos de cada uma das vias pensadas no espectrograma.
Resolução do problema de espaço, algo premente para o projecto; a pressão que esta acção exerce; a mediatização; o controlo por parte do projecto dos prazos e tempos; a necessidade de acções populares e como a Es.Col.A pode influenciar neste ponto; a acção é ilegal mas não é crime foram os pontos fortes assinalados para enveredar pela ocupação. Entre os pontos fracos, anotou-se: duração limitada e possibilidade de inviabilizar outras vias.
Em relação à via do diálogo, foram apontados como principais pontos fortes o facto de ser mais “legal” face à opinião pública e não inviabilizar outras formas de acção. O desgaste, a morosidade, a falta de resposta e a dependência foram vistos como pontos fracos desta forma de acção.
Como de costume, quem quis falou, ao microfone para que todos ouvissem (ou ao megafone, como aquando do espectrograma). E como nas primeiras assembleias da Es.Col.A, as ideias principais foram registadas com marcador em grandes folhas de papel. Que servirão de apoio à próxima assembleia, marcada para 4 de Julho, às 18h30, no Largo da Fontinha… a não ser que a câmara entretanto nos surpreenda e nos conceda a licença de utilização do espaço que tutela e mantém fechado.
Esta última assembleia chegou a ser anunciada para o campo de jogos vizinho, com dimensões e topografia mais adequadas à realização do espectrograma, mas acabou por não ser lá porque o recinto estava a ser utilizado à hora da assembleia.
Nesta assembleia, esteve presente a deputada municipal do BE, que informou que irá interpelar o executivo camarário sobre o assunto Es.Col.A na próxima assembleia municipal, segunda-feira, 27 de Junho. Ficou à vontade dos presentes participarem, sem se constituir delegação nem preparar argumentação como na ida à anterior assembleia municipal, a 16 de Maio, seis dias depois do despejo.
Quanto à última assembleia da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, em que participaram quatro moradores da Fontinha, ficou a saber-se que foi rejeitada a proposta do BE para que fosse constituída uma comissão de acompanhamento da Es.Col.A e que o presidente da Junta se terá mostrado surpreso com a existência deste projecto, dizendo desconhecer a situação, apesar de ter sido um dos destinatários da carta aberta que convidou todos os autarcas do Porto a participarem na assembleia do passado dia 13 de Junho.
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