segunda-feira, 23 de abril de 2012

Papel. Mas que papel?



Papel. Mas qual papel?

A licença foi renovada e prolongada até ao passado mês de março”. Esta frase foi repetida em vários cabeçalhos noticiosos há cerca de dois meses, altura em que o Es.Col.A veio a saber da intenção da CMP em despejar a escola ocupada em abril de 2011, no Alto da Fontinha. Como é que, de forma instantânea, uma ordem de despejo se transforma num prolongamento dum contrato que nunca existiu? Por mais insistência com que esta data de fim de março seja apresentada pela autarquia e pelos media, a verdade é que apenas soubemos dela através duma carta de despejo, que não foi sequer enviada diretamente ao projecto ou à sua Assembleia.

Mas aqui estamos já a meio de um longo caminho no qual a CMP, através dos media, quer transmitir a versão que lhe convém, travestindo-a de factos assumidos e absolutos. Resta-nos a nós a desmontagem de alguns dos argumentos dos quais a CMP se faz valer para tentar justificar o despejo do projecto que no último ano deu vida a uma escola que estava abandonada há mais de 5 anos por essa mesma câmara.

“A Câmara acabou, em Julho, por atribuir ao Es.Col.A uma licença provisória para se instalar na antiga escola até ao final do ano”. Guilhermina Rego, em entrevista à RTP1 sobre o Es.Col.A, repetiu os argumentos que a sempre tão interessada jornalista do Público tinha deixado transparecer nessa manhã: como argumentário, parece-nos bem – pena é que, por mais que se repitam mentiras, elas não passem a ser verdade.

A 'licença provisória até ao final do ano' foi uma frase dita numa reunião sem carácter decisório entre representantes da CMP e uma delegação da assembleia do Es.Col.A; uma frase que deveria aparecer numa proposta de contrato que nos seria enviada - e nunca foi. A única relação formal entre a CMP e o Es.Col.A foi um contrato promessa (uma promessa de contrato), na qual  nos comprometíamos a deixar o nosso caráter informal, transformando-nos em associação num prazo de 30 dias úteis e onde a autarquia se comprometia a, nos 10 dias úteis subsequentes, nos enviar a tal proposta de contrato. O Es.Col.A cumpriu a sua parte do acordo e, dentro do prazo, fizemos com que a vereadora soubesse que estava constituída a associação. A Câmara Municipal do Porto não cumpriu a sua parte: nunca chegou ao Es.Col.A, nem a alguém a ele ligado, qualquer proposta de contrato que falasse em final do ano. Será deste não contrato que falam Guilhermina Rego e os média, quando dizem que foi prolongado até março?

De seguida, o despejo foi suspenso, pelo menos até que houvesse diálogo entre a Câmara e o Es.Col.A. Mais uma vez, ficamos a saber pela comunicação social da decisão tomada em reunião de Câmara. Houve, então, uma nova reunião entre a vereação e dois delegados do projecto, e uma nova promessa de envio de proposta de contrato, que se revelou ser apenas uma
carta de despejo para fim de junho.
 

Em Carta Aberta, o Es.Col.A explicou a sua recusa em aceitar este processo. Nunca tivemos vontade nem necessidade de ter qualquer tipo de existência formal. Decidimos fazê-lo, porque acreditámos que a manutenção do projeto era mais importante para os moradores da Fontinha do que o carácter informal do mesmo. Mas não há diálogo possível com quem acha que as conversas se começam com operações policiais ou ameaças de despejo. Nem vontade de aproximação com instituições que utilizam a mentira, amplificada nas televisões de todo o país, para defender a sua própria incompetência.
 

O Es.Col.A é um espaço ocupado, por gentes da terra, moradores do bairro operário da Fontinha e pessoas que procuram sonhar mais do que seguir ordens e, como tal, continua, mesmo sob ameaça de despejo imediato pela CMP, a manter a sua actividade normal com quem queira aparecer, lutando pela libertação de espaços e pela recuperação das nossas vidas no dia a dia, longe das lógicas que nos procuram mostrar como as únicas. O Es.Col.A não precisa de contratos – estava melhor com a indiferença camarária a que nos habituámos durante este ano de trabalho, um ano composto por pequenas vitórias. Os ventos de liberdade e rebeldia sopram pelas ruas da Fontinha: os seus habitantes começam a perceber que basta querer e fazer para que seja possível.

O Es.Col.A não será nunca despejado, porque não se podem despejar ideias.

14 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, muito bem, muito bem!!! Chega de baixar a cabeça para as elites do pioder que masi não fazem do que empaturrar-se à pala do povinho usando, usando o interessa público para cumprir uma agenda pessoal! Grande es.col.a!

Maria Eduarda

Anónimo disse...

Isto não vai lá de outra forma! Tem que se começar a partir tudo!
Quando alguns sentirem na pele que não podem ser donos e senhores da vontade de um povo, recuperaremos a dignidade!
Todos para a ru!
Todos a esmagar essa gente parasita!

Isabel Lameiras disse...

Pessoal
Tenho grande respeito pelo vosso projecto, FORÇA.
Sugiro que a exemplo de outros projectos sociais da zona Porto aceitem o contrato com a CM Porto (que normalmente se trata de mera formalidade pela ocupação do espaço), dado que de outra forma estão a dar todos os argumentos à autarquia para considerar a ocupação ilegal!!!
Ver p.e. casos como espaços para apoio às vítimas de apoio doméstico e outros a funcionar em espaços devolutos do Porto e que neste momento além do contrato com a autarquia estão a receber apoio financeiro da mesma!
Temo que se não o fizerem acabam por ficar como os maus da fita, além da lamentável perda do vosso abnegado esforço!
Todos precisamos do vosso trabalho, não tomem. p.f. posições radicais!
Saudações

Alergia disse...

Acabei de publicar um post solidário no meu blo "Alegrias e Alergias", onde divulguei tudo o melhor que pude e soube.
Isto tudo é vergonhoso e acção da Cãmara foi inqualificável!
Mas as gentes do Porto e os cidadãos nacionais pacíficos não podem deixar morrer esta ideia tão criativa por um País melhor!
Contem comigo!
Força!
http://margarida-alegria.blogspot.pt/2012/04/escola-da-fontinha-para-que-matar-esta.html

Anónimo disse...

Tinha, vagamente no ano passado visto nas noticias a acção de despejo que teve efeito sobre o vosso projecto. No entanto, de nada mais ouvindo falar a minha mente esqueceu o sucedido. Mas sabendo agora do vosso altruismo, da mudança que operaram no bairro, do vosso voluntarismo em mostrar que é practicamente possivel vivermos de outra maneira. E tendo compreendido as condições em que ocorreram os eventos de ontem fico por um lado extremamente triste pela reacção fêrrea e abusiva por parte do estado para com vocês. Mas ao mesmo tempo muito contente pela resiliência que demonstraram ao longo deste periodo. Espero que a vossa têmpera não esmoreça nunca na cara das adversidades, e que de despejo em despejo permaneçam até
á ocupação final.
Da minha parte um profundo obrigado por terem provado que o futuro é possivel e que é possível viver com futuro.

Força!

Anónimo disse...

"Destapa-se, assim, o véu da ignorância, do qual se servem os opressores, que não têm em conta a interajuda e a cooperação enquanto leis originárias da sociabilidade. Eles oprimem com a miséria e a desgraça e são o inimigo invertebrado do pensamento. Eles tentam esgotar a inteligência e tentam transformar a mediocridade num dever e a mentira numa virtude. Mas, essas personagens com ar de intocável, esquecem-se que são seres-humanos vulneráveis que se escondem atrás de uma máscara.
A vida é uma luta e quanto mais viva for essa luta mais intensa será a vida, e esta luta, é para permitir que todos vivam uma vida um pouco mais digna.
Manifesto, assim, a minha solidariedade com um projecto, para a difusão do conhecimento e educação das classes sociais desprotegidas e oprimidas.
«O Es.Col.A não será nunca despejado, porque não se podem despejar ideias.»"
Roger R.

Albanolemospires@esad.pt disse...

Força na vossa luta, amigos!

É triste que um órgão de poder local não aproveite e até acarinhe um grupo que está a fazer o trabalho que competia à autarquia gratuitamente e com o entusiasmo de quem acredita! A CMP perdeu uma grande oportunidade de se sair bem desta história se tivesse apoiado o projecto com recursos materiais e financeiros e até depois divulgá-lo no seu boletim. Mas não, vigorou a mentalidade pequenina de "se não foi feito por mim/nós não presta" que levou à barbárie e ao vandalismo.
Parabéns à Es.Col.A pelo seu trabalho e pelo seu sonho.

Albano Lemos Pires

Anónimo disse...

É só escumalha esse movimento da COLA disfarçados de beneméritos da comunidade para invadirem e pernoitarem num espaço público. É um caso de polícia e não político como andam a tentar fazer com opiniões de patetinhas tipo Dalila Carmo ou da política de sargeta da Joana Amaral Dias. Essa malta é a mesma que andava há décadas pelo celeiro no rossio a tocar e pedir para a COLA. Não passam de escumalha anarquica que não fazem nem querem fazer nada e apenas viver do sistema a grande maioria até estrangeiros arruaceiros. Depois lá vem o movimento de indignados enrascadinhos a quererem o caos e a confusão. Já viram bem a escumalha que anda nessas manifestações? Andam só na política da mentira estes comunistazecos desesperados porque o tempo deles acabou e a malta que lá anda é só malta desinformada ou arruaceiros de serviço. Que pais é que podem permitir contactos desta gentalha com os seus filhos? É só ignorância em Portugal. Força Rui Rio! Agora até já brasileirecos aparecem como anonymous com aquela máscara que nem eles sabem a história, apenas a colocam como ignorantes que são e até ameaças já fazem! Portugal precisa é de correr com a ala esquerda toda do Parlamento e seguir o modelo é dos países bem sucedidos do norte da Europa. Os comunistas querem é lançar o caos nas ruas e transformar Portugal numa Venezuela ou Coreia do Norte! Portugal precisa de se livrar dessa política baixa e desses ignorantes que só actuam como forças de bloqueio ao país. A esquerda e o Marocas é que destruiu este país!

Marco Mendes disse...

Aconteça o que acontecer com o projecto Esc.ol.a, a verdade é que já serviu para despertar muitas consciências. Têm todo o meu apoio e solidariedade, para o que der e vier. Abraços,

Marco

Anónimo disse...

Projecto interessante sem dúvida.Pena é que o extremismo de ideias de ambas as partes, vossa e da CMP, levem a um desfecho vergonhoso e patético.Argumentos existem a favor de ambas as partes, pela vossa parte todo o bem que fizeram pela juventude e ambição por um mundo melhor, do lado da CMP a lei que é clara no que toca a gestão de espaços públicos.Seria interessante que ambas as partes se deixassem de radicalismos e fizessem um acordo, mas lamentavelmente percebe-se que a vontade é nula pois cada um está a tentar impor o seu ponto de vista.Mais uma vez se demonstra porque Portugal se encontra neste estado, a intolerância, falta de valores morais e essencialmente o egoísmo são o modo de vida escolhido.

Pedro disse...

Confesso que sempre fui apoiante do Rui Rio porque conseguiu limpar muita da vigarice que se fazia na CMP.
Confesso que não aprecio muito o estilo anarquista que não sei se é este o caso nem me interessa.

O que acho triste é não se apoiar e dar condições a estas pessoas que estavam a fazer algo de útil por eles e pela sociedade. Este é um país livre!

O caminho que estas pessoas seguiram é um caminho honroso como qualquer outro. Aliás acho têm muito mais valor do que os vigaristas de hoje em dia que usam uma gravata. Hoje julga-se pela aparência... Se estas pessoas tivessem todas bem vestidas talvez a história fosse outra.

Espero que saibam que há muitos portugueses solidários com vocês. Lutem pelo que acreditam!

Cumprimentos,
Pedro

Leonor Areal disse...

Da legalidade das ocupações
Saiba por que é legítima a ocupação de espaços públicos, como no caso da Escola da Fontinha:
http://offxore.blogspot.pt/2012/04/da-legalidade-das-ocupacoes.html

Miguel disse...

"Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir"

Muita Força

O Sono do Monstro disse...

Companheiros,
Solidariedade daqui da terra de Bocage.
Para que mais gente saiba, publiquei na íntegra o vosso comunicado no meu blogue e deixei o "link" para esta vossa página.
Só os peixe mortos andam ao sabor da corrente.
Bem (h)ajam!